É na sua dupla face de monumento poético e testemunho documental da vida palaciana durante um período que abrange tres reinados (o de D.Afonso V, D.Joao II e D. Manuel) que a compilaçao feita por Garcia de Resende se assume como obra de referencia indispensável para o estudo dos finais da Idade Média e a chegada dos novos ares renascentistas a Portugal. Divisa-se nela o que era o viver na corte lisboeta em tempos de crescente luxo e progressiva afirmaçao internacional, com a celebraçao de actos festivos que na sua deslumbrante espectacularidade se tornam amiúde símbolos do poder régio. Momos, entremezes, arremedos e outras representaçoes aludidas ou plasmadas na escrita do Cancioneiro Geral evocam-nos um ambiente lúdico e, ainda, certos elementos aspectuais que irao adquirindo uma forma mais estruturada e dramaticamente coesa na sua junçao de visual e oralidade.Um olhar sobre alguns textos inseridos nesta colectânea de 1516 parece incontornável quando se fala da (pré-)história do teatro portugues.